curious about: A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS
"Quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler".
Hoje finalmente acabei de ler A Menina Que Roubava Livros. Digo FINALMENTE porque este deve ser o livro que mais demorei pra ler. Não que ele seja uma leitura difícil em si (está longe de ser um Ulisses de Joyce, tampouco foi escrito em pentâmetros iâmbicos shakespearianos) ou o livro mais grosso jamais escrito (tem apenas 494 páginas). Isso me assombra porque costumo ser uma “devoradora” de livros daquelas tão apaixonada por histórias que as consome com voracidade na maior velocidade possível. Por outro lado, quando a leitura se revela indigesta costumo abandoná-la sem crises de consciência. Com esse não foi assim.
Quando comecei a ler, tinha pelo menos duas boas referências do livro. Pessoas próximas a mim que haviam gostado muito e cujos olhos brilhavam quando falavam da história. Mesmo assim foi um começo difícil, a leitura não fluía. Passei semanas a fio com o livro debaixo do braço, pra cima e pra baixo, sem sequer tornar a abri-lo. Abandonei pela primeira vez.
...
Meses depois, não lembro muito bem por qual razão, resolvi retomar o livro. Qual não foi minha surpresa ao vencer, em poucas horas, aproximadamente duzentas páginas. Pensei que havia recuperado meu velho ritmo e a história finalmente começou a “acontecer”. Por mais uns dois dias mantive um ritmo digno até...
... abandonar mais uma vez. A pobre Menina... voltou a passear comigo, sem qualquer avanço na leitura: freqüentou casa de amigos, meu trabalho, enfrentou uma viagem, dormiu no carro alheio, esquecida. Depois de algum tempo, ficou abandonada no quarto.
...
Mais alguns meses, algumas retomadas, pequenos avanços seguidos de lacunas generosas, e hoje finalmente cumpri as duas (!!!) últimas páginas que me separavam do fim.
Sobre o livro? Minhas impressões:
O autor, Markus Zusak, escreve muito bem e aparenta ter plena consciência disso. O que, para mim, foi um problema às vezes. Em alguns momentos, o foco se deslocava para um encantamento deslumbrado com o próprio estilo e habilidade em manipular as palavras e construir a narrativa. Mas, de uma maneira geral, o livro é realmente muito bem escrito e ganha dimensão neste aspecto uma vez que a história em si – embora não seja banal – não é original nos acontecimentos enfocados, mas sim na forma como esses são narrados. A trajetória de sobrevivência da menina Liesel Meminger, narrada pela Morte, durante a Segunda Guerra Mundial na Alemanha de Hitler é contada com sensibilidade, inteligência e utilização de uma série de recursos narrativos que fazem com que ela se diferencie dos outros livros e abordagens semelhantes. Entre esses recursos, confesso desde já, que o meu preferido foi a antecipação de alguns fatos, especialmente da morte (claro!!) de alguns personagens, em momentos chave da narrativa. Embora o autor se utilize dessa estratégia diversas vezes, o que tenderia a diminuir o impacto do próprio recurso e esvaziar a narrativa, ele conseguiu me atingir. Talvez por ser uma história narrada pela Morte, o recurso acabou por ganhar uma coerência interna com a obra bastante grande, pontuando-a emocionalmente. Outro recurso recorrente foi a utilização de cores na caracterização da visão da Morte-Narradora. É justamente neste aspecto, a meu ver, que Zusak perde a mão, exagerando na tentativa de construir imagens poéticas e definir uma visão originalíssima para sua narradora. Pelo visto ele achou a idéia muito boa e não quis desperdiçar. Nem sempre funciona, pelo menos não comigo. O último aspecto que eu gostaria de ressaltar é a construção de imagens. Enquanto alguns bons livros são classificados de “infilmáveis”, esse entrega imagens tão bem construídas que fazem pensar imediatamente em cenas, enquadramentos e fotografias perfeitos. No final das contas, A Menina Que Roubava Livros resulta numa leitura muitas vezes impactante e bem construída, sem apelar para caminhos ou soluções óbvias. Não é apenas uma história interessante, mas sobretudo uma história bem contada sobre a importância das palavras e das próprias histórias.
Quando comecei a ler, tinha pelo menos duas boas referências do livro. Pessoas próximas a mim que haviam gostado muito e cujos olhos brilhavam quando falavam da história. Mesmo assim foi um começo difícil, a leitura não fluía. Passei semanas a fio com o livro debaixo do braço, pra cima e pra baixo, sem sequer tornar a abri-lo. Abandonei pela primeira vez.
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Meses depois, não lembro muito bem por qual razão, resolvi retomar o livro. Qual não foi minha surpresa ao vencer, em poucas horas, aproximadamente duzentas páginas. Pensei que havia recuperado meu velho ritmo e a história finalmente começou a “acontecer”. Por mais uns dois dias mantive um ritmo digno até...
... abandonar mais uma vez. A pobre Menina... voltou a passear comigo, sem qualquer avanço na leitura: freqüentou casa de amigos, meu trabalho, enfrentou uma viagem, dormiu no carro alheio, esquecida. Depois de algum tempo, ficou abandonada no quarto.
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Mais alguns meses, algumas retomadas, pequenos avanços seguidos de lacunas generosas, e hoje finalmente cumpri as duas (!!!) últimas páginas que me separavam do fim.
Sobre o livro? Minhas impressões:
O autor, Markus Zusak, escreve muito bem e aparenta ter plena consciência disso. O que, para mim, foi um problema às vezes. Em alguns momentos, o foco se deslocava para um encantamento deslumbrado com o próprio estilo e habilidade em manipular as palavras e construir a narrativa. Mas, de uma maneira geral, o livro é realmente muito bem escrito e ganha dimensão neste aspecto uma vez que a história em si – embora não seja banal – não é original nos acontecimentos enfocados, mas sim na forma como esses são narrados. A trajetória de sobrevivência da menina Liesel Meminger, narrada pela Morte, durante a Segunda Guerra Mundial na Alemanha de Hitler é contada com sensibilidade, inteligência e utilização de uma série de recursos narrativos que fazem com que ela se diferencie dos outros livros e abordagens semelhantes. Entre esses recursos, confesso desde já, que o meu preferido foi a antecipação de alguns fatos, especialmente da morte (claro!!) de alguns personagens, em momentos chave da narrativa. Embora o autor se utilize dessa estratégia diversas vezes, o que tenderia a diminuir o impacto do próprio recurso e esvaziar a narrativa, ele conseguiu me atingir. Talvez por ser uma história narrada pela Morte, o recurso acabou por ganhar uma coerência interna com a obra bastante grande, pontuando-a emocionalmente. Outro recurso recorrente foi a utilização de cores na caracterização da visão da Morte-Narradora. É justamente neste aspecto, a meu ver, que Zusak perde a mão, exagerando na tentativa de construir imagens poéticas e definir uma visão originalíssima para sua narradora. Pelo visto ele achou a idéia muito boa e não quis desperdiçar. Nem sempre funciona, pelo menos não comigo. O último aspecto que eu gostaria de ressaltar é a construção de imagens. Enquanto alguns bons livros são classificados de “infilmáveis”, esse entrega imagens tão bem construídas que fazem pensar imediatamente em cenas, enquadramentos e fotografias perfeitos. No final das contas, A Menina Que Roubava Livros resulta numa leitura muitas vezes impactante e bem construída, sem apelar para caminhos ou soluções óbvias. Não é apenas uma história interessante, mas sobretudo uma história bem contada sobre a importância das palavras e das próprias histórias.
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