curious about: MARTHA MEDEIROS DE NOVO!! E CLOSER...PELA PRIMEIRA VEZ, NESTE BLOG

Dia curioso para postagens esse domingo. Entrei no blog para terminar um post, mais por obrigação, e já estou escrevendo o sexto... De busca em busca, cheguei a esse texto da Martha Medeiros, mais um (não, não pretendo fazer um blog só com textos dela, pois já existe pelo menos um), que se aproveita do filme Closer (adoro!) para falar de relacionamentos. Quando li essa coluna, escrita para o jornal O Globo, não pude deixar de pensar na minhas últimas conversas com Simone e com Lilian, e numa conversa filha única (por enquanto) com Jô. Longe de responder às nossas infinitas perguntas a respeito do assunto, o texto vai cair como uma luva para determinados aspectos. Meninas, aproveitem!

Quanto ao filme Closer, acho ainda que essa vai ser apenas uma primeira citação no blog... talvez escreva mais sobre ele, com o tempo.

Cenas e poster de Closer - Perto Demais




Interrompendo as buscas


Martha Medeiros - Jornal O Globo - 20/02/2005, disponível tb no ótimo blog: http://www.carpevie.blogger.com.br/.


ASSISTINDO AO ÓTIMO "CLOSER - Perto demais", me veio à lembrança um poema chamado "Salvação", de Nei Duclós, que tem um verso bonito que diz: "Nenhuma pessoa é lugar de repouso". Volta e meia este verso me persegue, e ele caiu como uma luva para a história que eu acompanhava dentro do cinema, em que quatro pessoas relacionam-se entre si e nunca se dão por satisfeitas, seguindo sempre em busca de algo que não sabem exatamente o que é. Não há interação com outros personagens ou com as questões banais da vida. É uma egotrip que não permite avanço, que não encontra uma saída - o que é irônico, pois o maior medo dos quatro é justamente a paralisia, precisam estar sempre em movimento. Eles certamente assinariam embaixo: nenhuma pessoa é lugar de repouso. Apesar dos diálogos divertidos, é um filme triste. Seco. Uma mirada microscópica sobre o que o terceiro milênio tem a nos oferecer: um amplo leque de opções sexuais e descompromisso total com a eternidade - nada foi feito pra durar. Quem não estiver feliz, é só fazer a mala e bater a porta. Relações mais honestas, mais práticas e mais excitantes. Deveria parecer o paraíso, mas o fato é que saímos do cinema com um gosto amargo na boca. Com o tempo, nos tornamos pessoas maduras, aprendemos a lidar com as nossas perdas e já não temos tantas ilusões. Sabemos que não iremos encontrar uma pessoa que, sozinha, conseguirá corresponder 100% a todas as nossas expectativas sexuais, afetivas e intelectuais. Os que não se conformam com isso adotam o rodízio e aproveitam a vida. Que bom, que maravilha, então deveriam sofrer menos, não? O problema é que ninguém é tão maduro a ponto de abrir mão do que lhe restou de inocência. Ainda dói trocar o romantismo pelo ceticismo, ainda guardamos resquícios dos contos de fada. Mesmo a vida lá fora flertando descaradamente conosco, nos seduzindo com propostas tipo "leve dois, pague um", também nos parece tentadora a idéia de contrariar o verso de Duclós e encontrar alguém que acalme nossa histeria e nos faça interromper as buscas. Não há nada de errado em curtir a mansidão de um relacionamento que já não é apaixonante, mas que oferece em troca a benção da intimidade e do silêncio compartilhado, sem ninguém mais precisar se preocupar em mentir ou dizer a verdade. Quando se está há muitos anos com a mesma pessoa, há grande chance de ela conhecer bem você, já não é preciso ficar explicando a todo instante suas contradições, seus motivos, seus desejos. Economiza-se muito em palavras, os gestos falam por si. Quer coisa melhor do que poder ficar quieto ao lado de alguém, sem que nenhum dos dois se atrapalhe com isso? Longas relações conseguem atravessar a fronteira do estranhamento, um vira pátria do outro. Amizade com sexo também é um jeito legítimo de se relacionar, mesmo não sendo bem encarado pelos caçadores de emoções. Não é pela ansiedade que se mede a grandeza de um sentimento. Sentar, ambos, de frente pra lua, havendo lua, ou de frente pra chuva, havendo chuva, e juntos fazerem um brinde com as taças, contenham elas vinho ou café, a isso chama-se trégua. Uma relação calma entre duas pessoas que, sem se preocuparem em ser modernos ou eternos, fizeram um do outro seu lugar de repouso. Preguiça de voltar à ativa? Muitas vezes, é. Mas também, vá saber, pode ser amor.





Só pra terminar: não pude deixar de lembrar também de uma das frases do filme. Dita pela personagem da Natalie Portman: "Eu teria te amado pra sempre".

Comentários

  1. Bom, um comentário pode me deixa com um gosto amargo na boca, mas ao ler esse texto eu fiquei com esse gosto amargo na boca. Mas vamos lá com elucubrações. Afinal, elas fazem parte da nossa vida.

    Eu sempre me pergunto o que as pessoas querem dizer com "atualmente", se é um atualmente 2008 ou um atualmente desde 90, principalmente quando não falamos sobre isso. Bem, supondo que é algo de 2008, um formato de romance vazio e sem coração, em que a malícia, a sexualidade e o não relacionamento estão em voga, em que a super-exposição na mídia é o tom, sair nua na playboy um sonho e todos ficam esperando pra ver quem vai sair com quem, quem vai transar (ou seria fazer amor?) com alguém e depois trair com quem e ficar semanas falando a respeito, esperando o próximo reality. Ou seja, tudo é descartavel, até a próxima.

    A insatisfação que sentimos não pode ser medida pela época. Quem leu o romance "Quando nietzche chorou" vai entender o que quero dizer. A paixão é neessária pra vida, é o que me movimenta. Renunciar a ela em função de um relacionamento suave é trocar 6 por 2, ou seja, não faz sentido. Querer alguma tranquilidade na cabeça não é parar de se agitar. É entender o que se procura e achar e continuar achando, porque quando o copo transborda ele vai ser enchido normalmente.

    Romances superficiais não são ruins. Não saber o que é aprofundar é horrível. Pior, triste. Confiar em alguém que não se conhece, dar tudo de si por um relacionamento, mostrar quem vc é realmente, se deixar ir... enfim, isso é viver. Ficar fazendo sexo indefinidamente não é algo de "atualmente". É algo de sempre. Mas isso não quer dizer que quem o fazia não queria se relacionar. Só não estava disposto a se mostrar fraco ou, em outras palavras, se colocar em um condição em que pode ser machucado.

    Amar dói. E é bom. Mas não há amor sem dor.

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