curious about: O JARDINEIRO FIEL

No meu último post falei sobre o diário das filmagens de O Jardineiro Fiel mantido em 2004 pelo diretor Fernando Meirelles no Cinema em Cena e comentei que não encontrava o link... pois bem, encontrei e aproveitei para rever o que ele havia escrito. O diário acompanha a produção desde dezembro de 2003 até 20 de agosto de 2004, num total de 33 textos.
A resistência inicial do cineasta em relação à produção fica explicita nos primeiros textos, onde também Fernando destaca o novo tratamento que quer dar ao roteiro (lá pela parte 10 o relato dele já parece totalmente envolvido e apaixonado pelo filme!). Baseado em livro de John Le Carrer (The constant gardener), trata-se da história de um diplomata inglês que perde sua esposa na África, envolvendo-se em trama que desvenda podres da indústria farmacêutica. Segundo Meirelles: "Meu objetivo em retrabalhar este roteiro é, inicialmente, tirar um pouco da ação, que me parece um tanto óbvia, e usar esse tempo para falar mais sobre o personagem central. (...) Ou seja, o filme deve virar menos um thriller e mais um drama psicológico, e uma história de amor". (Parte 2: mudando um pouco a receita) Neste sentido, é interessante perceber que o filme tornou-se exatamente isso, adaptando o livro para uma obra que não é subserviente mas que sabe aproveitar o que o livro tem de melhor e imprimir ao mesmo tempo a visão dos novos criadores. Novamente nas palavras de Meireles nesta parte do diário: "Na verdade, estou tentando trazer mais a África para o filme e diminuir a visão um tanto colonialista que vem do livro. John Le Carré está indo para os 80 anos, é um camarada extraordinário, mas, no fundo, acredita que nada de muito bom existe abaixo da linha do Equador".
Na parte 3 (Descobrindo Tessa) ele começa a descrever a aventura de achar a atriz "ideal" para o papel feminino principal. Confesso que a busca dele gerou alguns dos meus textos favoritos do diário (parte 11 tb sobre escolha de elenco).

"Resolvo, então, fazer uma revisão rápida de todas as mulheres já vistas, mas desta vez adoto um sistema de notas para cada uma. Anoto no meu caderno o nome, um ou dois filmes que fez, uma nota de 1 a 5 e, ao lado, uma ou duas palavras como “orelhuda”, “linda mas não parece inteligente”, “linda mas parece fútil”, “interessante e intensa, mas difícil de se apaixonar”. Comentários absolutamente subjetivos, mas que me ajudam a conseguir descartar uma parte daquelas mulheres". (hehe...)

No decorrer do diário algumas decisões vão sendo esboçadas e é muito legal ver como o filme vai tomando forma: "... estabelecemos um novo conceito visual para o filme: tudo que se refere ao mundo da Tessa será moderno e limpo. Muito branco, paredes limpas, chapadas e, quando estiver nas ruas, veremos uma Londres moderna que poucos vão reconhecer. O mundo de Justin será Londres mais tradicional, mas vamos abusar sempre dos verdes para contrastar com a África, mais solar, mais colorida e com uma base cromática bem quente. A partir destas rápidas linhas gerais, começamos a definir o tratamento de imagem do filme todo. Enquadramentos, uso de lentes e movimento da câmera acabam sendo inventados a partir deste ponto." (Parte 4: Trabalho em equipe)
Como no meio da produção, Cidade de Deus, o longa anterior do cineasta, recebeu indicações ao Oscar, algumas colunas mostram um pouquinho também da roda viva na qual ele se viu neste período.

Enfim, O Jardineiro Fiel resultou em um filme muito bom, bem filmado e sensível que rendeu um Oscar à atriz Rachel Weiz. Assisti ao filme uma vez no cinema e outra em vídeo na época dos respectivos lançamentos e ainda mantenho algumas impressões e cenas bem fortes na memória. E isso está bem retratado nos depoimentos de Fernando Meirelles reunidos na sessão COLUNAS: Diário de Produção do site Cinema em Cena.
Cenas da filmagem e do filme O Jardineiro Fiel. Site Cinema em Cena.

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