5 dias e meio em Jerusalém, com uma escapadinha para o Mar Morto, Ein Gedi e Massada ao amanhecer


Dia 01 - Desnorteada em Jerusalém: o primeiro dia em Israel


Nesse mochilão 2012 eu consegui realizar os meus três sonhos de viagem mais remotos: Holanda (revisitada), Grécia e Jerusalém. Talvez por ser um sonho tão antigo, talvez devido ao fato do fim da viagem de 3 meses estar se aproximando. Talvez por estar cansada e ter tido alguma descarga de adrenalina com a questão da entrada no país. Talvez pela emoção do rápido reencontro com meu amigo querido no aeroporto. Talvez por tudo aquilo que a gente vê e escuta antes de vir para Israel e por ser a primeira vez a colocar os pés no Oriente  Médio, com tudo que povoa nosso imaginário à respeito. Talvez pela vibração intensa que você percebe na cidade. Talvez por tudo isso junto e mais um pouco, eu estava totalmente desnorteada nesse primeiro dia em Israel. Me sentia, sei lá, meio fora da casinha. rs

Não tive qualquer dificuldade em chegar do aeroporto internacional em Jerusalém de nesher (um táxi compartilhado, na realidade um van). Meu amigo negociou com o motorista em hebraico e meu parco hebraico foi suficiente depois para entender à pergunta do ponto em Jerusalém que eu queria ir e responder. De qualquer forma, após me deixar em frente ao hostel, o motorista se comunicou comigo em inglês me dando uma coleção de conselhos para sobreviver em Jerusalém. De uma forma geral, os israelenses são bastante diretos, as vezes até um tanto grosseiros, tem pavio curto, mas se mostraram muito solidários durante toda a viagem.

Feito o check in no Abraham Hostel (adorei!), segui até a cidade antiga de Jerusalém a pé. Seria bem fácil, só descer a rua Jaffa, uma das principais da cidade em em 15-20 minutos entraria pelo Jaffa Gate. Porém, como estava desnorteada, peguei a rua errada e depois de quase entrar Me'a She'arim andentro (o bairro judeu ultra-ortodoxo, pouco indicado para "turismo") fui parar em frente ao único portão da Cidade Antiga que tinha sido desaconselhado por absolutamente todas as pessoas que conheciam a cidade. A sorte é que percebi a tempo e consegui contornar (dei uma volta grande)  e chegar até o Jaffa. Comecei meio perdida ainda, andando a esmo, mas graças às várias plaquinhas consegui chegar até o Kotel, o famoso Muro das Lamentações. Se não me engano todas as atrações religiosas são gratuitas e abertas a todos, as vezes com regrinhas de comportamento ou horários programados. A entrada para o Muro - que não é uma só (eu passei por duas enquanto estive por lá, mas acho que são três ou quatro) - é controlada por detector de metais, mas é só. Há quipás disponíveis para os homens e panos para as mulheres que estiverem com pernas e ombros de fora. Fiquei muito emocionada, como poucas vezes na vida. Aliás, ir rezar no Muro me deixava tão emocionada que mesmo indo lá todos os dias em que estive em Jerusalém (menos um), não me lembrei uma só vez de colocar pedidos nos bilhetinhos que são deixados nos espaços. Não sei dizer quanto tempo fiquei por lá. Quando sai, fui interceptada por alguns judeus que ficam ali perto, na entrada pelo Quarteirão Judaico (a cidade antiga é dividida em 4 Quarteirões: Cristão, Árabe, Armênio, além do já citado) que eu utilizei para entrar e sair. Eles ficam fazendo uma certa pressão por doações. Como diria um dos meus guias dias depois, trata-se do lado não tão sagrado da Cidade Santa. Me irritei um pouco com a abordagem e fui tentar resolver isso com um sorvete. Sentei ali na praça de uma das Sinagogas, vendo as crianças brincarem. Mas logo fui abordada por uma mulher que começou com a lenga-lenga da doação. Me irritei mais e cai fora. Fui me perder um pouco pelas ruas e percorri o Shuk (o mercado) que contém uma parte da Via Dolorosa. Sim, é um loucura! Você vai andando e do lado de uma "lujinha" com camisetas com dizeres engraçadinhos tem a marquinha indicando uma das Estações. As ruas ali são um emaranhado e não sei como fui parar na Igreja do Santo Sepulcro. Resolvi entrar e acho que fiquei 10 minutos em estado de choque ali perto da porta. Para quem nunca visitou, dentro da Igreja ficam as três (acho que são 3) últimas estações da Paixão de Cristo: à direita da porta o lugar da crucificação, em frente à porta uma pedra onde teria sido depositado o corpo e lavado e a tumba mais para dentro da Igreja, à esquerda de quem entra. Os cristãos que me ajudem, mais acho é mais ou menos isso. De qualquer forma, quando entrei, assim como as outras pessoas, dei de cara com a pedra que verte uma substância oleosa e cheirosa, à qual são atribuídas propriedades de cura. Muitas pessoas ficam ali, rezando, tocando a pedra, esfregando panos etc. Fiquei hipnotizada assistindo. Confesso que todas as vezes em que visitei a Igreja depois, continuei assombrada com a visão das pessoas em ato de fé ali na pedra. É muito impressionante! Dei uma volta dentro da Igreja, toda subdividida em setores das diferentes vertentes do Catolicismo. Tinha fila para entrar no Santo Sepulcro, que fica dentro de uma espécie de Baldaquino em uma das capelas. Não entrei.
Saindo da Igreja, sai da Cidade Antiga. Tem um shopping lindo (sim! estou elogiando um shopping) às portas do Jaffa Gate. Caminhei um pouco,  vi o por-do-sol e voltei, agora pelo caminho certo, para o hostel.







Dia 02 - Situada em Jerusalém

De alguma maneira, acordei no meu segundo dia super situada. Qualquer situação de estranhamento tinha desaparecido. Talvez (mais um talvez!) devido ao fato de ter descansado e à sensação de familiaridade proporcionada pelo Hostel. Não há nada demais nas instalações do Abraham, mas o clima entre os viajantes e a área comum são únicos. Sei lá, uma coisa meio comunal. rsrs


Depois de voltar para lá, no dia anterior, programei algumas atividades. O segundo dia começou, após o café da manhã, com o Free Walking Tour saindo do Hostel. Descemos a Jaffa e nos encontramos com mais gente ali no Jaffa Gate. Nosso guia era escocês e achei uma ótima introdução à cidade, algo básico. Ah! Teve um momento muito especial para mim: próximo do meio dia, estávamos todos em cima de um dos telhados da Cidade Antiga, cercados pelas principais Igrejas, pelas Sinagogas, pelo Muro, com vista para o Domo. Nosso guia chamou atenção para isso e começou a recitar uma poesia no momento em que deu meio dia e os sinos das Igrejas começaram a tocar e escutamos o chamado para reza muçulmana. Foi de arrepiar, enquanto a poesia falava do Sagrado e da mesquinharia humana. 
Conheci durante o tour uma brasileira que mora em Londres e a mãe dela. Almoçamos juntas ali na cidade antiga e eu resolvi acompanha-las na busca pelo outro Sepulcro de Jesus: o Garden Tomb. Acontece que para os evangélicos, pelo que eu pude entender, Jesus não teria sido sepultado ali no lugar indicado pela Igreja do Santo Sepulcro e sim em um outro lugar que fica no começo do bairro Árabe de Jerusalém (não confundir com o quarteirão Árabe dentro da Cidade Antiga). 











Foi um pouquinho complicado encontrar, mas conseguimos depois de algumas voltas a ajuda de um rapaz árabe que nos levou até lá. E lá me vi eu, visitando um segundo sepulcro vazio no mesmo dia. Foi bem interessante. Havia um grupo grande que cantava e rezava em alemão. A mãe da minha nova amiga ficou muito emocionada e me deixou emocionada também. O lugar em si é muito tranquilo e bonito.

Voltamos devagar, a pé para o hostel. Eu fui atrás de um tênis pois tinha agendado o tour para o Mar Morto que incluía subir a de madrugada a montanha de Massada no meio do deserto da Judeia para ver o sol nascer lá de cima. Fiquei feliz em conseguir comprar o tal tênis e comida em hebraico e mímica. 

Dia 03 - Massada, Ein Gedi e Mar Morto



O dia começou muito cedo, pois a saída para o tour era lá pelas 3h da manhã! Fomos em uma van até o deserto e na base de Massada o guia deu as orientações e horários para a subida. Naquele horário a única maneira de subir seria a pé, pois o teleférico começa a funcionar as 8h, se não me engano. Devia ser 5h da manhã mais ou menos. A subida se dá pelo Snake Path e começa ainda no escuro. Massada era uma fortaleza construída por Herodes que serviu de último foco de resistência judaica. Conta-se que os últimos resistentes ao se verem encurralados no cerco romano, após a destruição do Segundo Templo, se mataram para não serem capturados. Hoje é Patrimônio da Unesco e serve de palco para o juramento dos soldados israelenses. 
Foi inesquecível subir e ver tudo se iluminar pelo sol lá de cima. É uma experiência que recomendo muito! Até porque não consigo imaginar como alguém consegue subir após o nascer do sol. Eu pingava de suor e já era outono em Israel. As cores do deserto, somadas às ruínas e à história tornam tudo meio mágico. Mas após as 7h, com o nascer pleno do sol, o calor é de lascar. Escolhi descer a pé também.


De lá, fomos para um oásis chamado Ein Gedi. Um lugar bem bonito. Foi refrescante!




Saindo de Ein Gedi, cruzamos na direção do West Bank e fomos em uma das praias do Mar Morto. Divertido! Mas diversão rápida! 

Voltamos para Jerusalém e eu ainda me animei a ir até a Cidade Antiga comer e passar no Muro (!!!), após um banho. Capotei em seguida.

Dia 04 - Incursão pelos "Sagrados" da Terra Santa












Minha opção em Israel era escolher de maneira que facilitasse a vida. Foi assim que desisti de me aventurar sozinha a conseguir um lugar para ficar "perto" do Mar Morto e optei por uma excursão. Por esse mesmo motivo, me inscrevi no Holy City Tour que me levaria, entre outros pontos, ao Domo da Rocha. Eu já sabia que não-muçulmanos são autorizados a visitar a parte externa mas não o interior do Domo e da Mesquita (atualmente, reservados aos muçulmanos), mas que havia dias e horários específicos para a turistada não muçulmana afim de evitar conflitos. Sabia que poderia fazer isso sozinha. Mas resolvi ir no tour e não me preocupar com esses detalhes. Foi a melhor coisa que fiz! Peguei um dos melhores guias (Alon, pelo que via agora no site, ele ainda consta na equipe de guias), que nos conduziu com bom humor, respeito, tranquilidade e muitas informações. É o mesmo grupo que proporciona o Free Walking Tour, mas esse é pago. (http://www.newjerusalemtours.com/daily-tours/holy-city-tour.html
Bem, o tour foi maravilhoso, fiz amizades, vi os Bar Mitzvah sendo celebrados pelo Quarteirão Judaico até chegar ao Muro..  Foi um dia muito especial para se estar em Jerusalém.
Dessa vez, entrei na fila para visitar o Santo Sepulcro. Mesmo que não seja Católico, visite! Vale a pena como experiência única. Junte a fila, o incenso, os padres apressando as pessoas, gente rezando, gente chorando e o "mergulho" para entrar em um espaço mínimo com uma pedra de mármore simples, algumas velas acesas e mais três pessoas junto contigo neste micro espaço. Mas, por incrível que pareça, quando você mergulha parece que entra em uma bolha de paz. Muito engraçado para quem não é católico, mas o lugar realmente te passa a sensação de Sagrado.. Imagino para quem acredita como a experiência deve ser.
Ainda refiz toda a Via Dolorosa com outras brasileiras que encontrei no tour. Barganhamos no shuk e tentamos dar a volta na Cidade antiga por fora, querendo chegar no Monte das Oliveiras. Mas estava ficando tarde e longe.

Voltei para o Hostel e fui jantar com a filha de uma amiga e a amiga dela. Ambas estavam passando pelo ano de estudos em Israel. A noite fervia na Jaffa. Era quinta-feira, ou seja, véspera do final de semana, que em Israel é na sexta e sábado (Shabat).

No dia seguinte, deixei a mala maior no hostel e peguei o voo para Eilat.

Dia 05 - Yad Vashem e a febre



Bem, entre o quarto e o quinto dia em Jerusalém tem minha ida para Eilat, que vou contar no próximo post. O que interessa saber é que voltei para Jerusalém com febre começando, resultado de uma baita infecção urinária que por sua vez era decorrente de uma bruta desidratação (depois eu conto).
O fato é que quando cheguei de volta no hostel em Jerusalém estava indisposta apenas, mas já sentia um vislumbre de calafrio. Como suspeitei que pudesse piorar e o dia seguinte seria sexta-feira, liguei para um amigo que deveria encontrar no norte dali a 3 dias e antecipei minha ida para a casa dele. Reduzi minha estadia no hostel cancelando a reserva de uma pernoite. Só me recusei a ficar descansando no Hostel. como não deveria mais voltar para Jerusalém naquela viagem, não quis deixar de visitar o Yad Vashem, Museu do Holocausto. Passei no Mercado Mahane Yehudaali perto, comprei algo pra comer, peguei o tram e fui pro museu. 
Só posso descrever a minha experiência como bastante dolorosa em todos os sentidos, mas nada que se compare ao que estava sendo retratado. A febre aumentou, comecei a ter calafrios e a sentir dor... e fui ficando um farrapo emocional conforme percorria o espaço (a arquitetura é genial em conceito, execução e efeito no visitante) que tem como principal mote curador não permitir que aquelas pessoas sejam esquecidas ou transformadas em números. Quando acabei a visita ao prédio principal, sentei em uma das últimas salas, um espaço escuro com sofás e projeções de frases, sons de falas contando trechos de histórias pessoais... Literalmente, desabei no choro! Chorei mais do após visitar Auschwtiz. Não conseguia parar de chorar, um choro pesado. Quando consegui recuperar o controle sai e fui respirar olhando Jerusalém. A saída desse prédio principal é muito marcante. Só conseguia pensar em como a humanidade - nós - vive indo parar à beira de abismos.
O museu é um complexo com diversos pontos de lembrança e homenagens. Ainda tive forças para visitar a sala de lembrança das crianças exterminadas. 
Acabei desistindo de visitar o resto e voltei para o hostel, me auto-mediquei e cai no sono. Acordei sem dor e sem febre, mas ainda meio zonza. Fui lavar roupa ali no hostel mesmo (eles tem boa oferta de serviços) e comer alguma coisa. 
Dormi cedo.


Dia 06 - Meio dia e uma sirene

Acordei no meio da manhã, sem dor ou febre, mas com um alarme tocando. Aliás todo mundo no quarto pulou da cama meio confuso.
Fui para a janela e estava tudo calmo lá fora. Uma gravação, sabe-se lá vinda de onde, em hebraico e logo depois em inglês informou que não havia motivo de preocupação e que era um alarme falso. Dez dias após eu ter deixado Israel, o conflito estourou novamente, mas isso não faz parte da minha história de viagem.

Tratei de terminar de fazer as malas, fiz check out e fui para a estação rodoviária pegar um ônibus para Tel Aviv, onde ainda teria que pegar um nesher para chegar até Nazaré Ilit.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As gêmeas viajam: 4 dias em Recife

curious about: FUI TIRAR UM BICHO DO MEU OUVIDO E QUISERAM ME DAR UM NARIZ NOVO

curious about: DOTES CULINÁRIOS