[republicando] A primeira chave

continuação do post: A chave da cidade...


Durante o primeiro dia em Amsterdam e na metade do segundo, eu vi muita coisa: fui a museus, percorri o centro da cidade a pé, fui ao Red Light District, entrei em sex shops, andei de barco nos canais, tirei foto no IAMSTERDAM, andei de tram, fui ao mercado, vi guerra de travesseiro na praça central... Todas coisas muito legais ou interessantes ou divertidas ou muito malucas e que adorei fazer. Mas estava sempre vendo, do lado de fora, o movimento, a cidade, os nativos e os turistas.
Então, na tarde deste segundo dia, quando procurava a Rembrandtplein (que não encontrei até o final da viagem), andando pela terceira vez na mesma rua cheia de lojas, passei por um delicatessen. Na verdade, me chamou atenção as frutinhas nas banquinhas do lado de fora. Cheguei perto pra ver. Um casal de turistas japonês, bem típico, tentava se acertar com a dona da delicatessen, o ser mais disponível e simpatico que vocês podem imaginar.
Fui atraída pela cena e esqueci as frutas que tinham chamado minha atenção e a praça que estava procurando (e que precisava ser encontrada até umas 5 da tarde pra eu poder ir de graça no museu ali perto!!).
Quando percebi, estavamos eu e os japoneses experimentando frutinhas azedas e tentando pronunciar seus nomes em holandês (vale a pena imaginar a cena). Sei que ao final, o casal saiu feliz e confuso com um pacotinho de algo parecido com maracujas mas com cor de laranja e eu comprei lindas frutinhas vermelhas e mais uma garrafa de chá verde - mesmo sem gostar desse chá - que era lindíssima só porque vi um outro casal (com cara de local) levar uma enquanto minhas frutas eram devidamente embaladas.
Foi nesta situação extremamente simples que eu "entrei" em Amsterdam de vez. A minha felicidade ao sair da loja era tamanha que a cidade tinha mudado de cor. Uma sensação de contentamento e a consciência de que aquelas sensações todas tinham mudado meu status de viajante naquele exato momento.
Sei que é difícil de entender e tenho obtido melhores resultados ao vivo quando falo de tudo isso.
Acontece que a partir desse momento e - como depois eu pude viver e saber - a cada momento em que eu "ganhava" a chave da cidade e nela entrava a experiência completa da cidade fazia sentido. Um sentido além de explicações em alguns momentos. Eu não apenas observava a vida na cidade mas eu passava a fazer parte dela, vivia minha história ali, coisas aconteciam comigo, não apenas essas coisas de viagem, mas coisas de vida. As experiências se completam e a vida vira presente absoluto, sem expectativas, sem fantasias, vivência bruta de um tempo presente.
A consciência deste momento foi plena também, mas - quebrando todos os meus padrões anteriores - pouco analítica. Naquele momento, não imaginei nem racionalizei nada para além daquelas sensações e da percepção de que tudo isso estava acontecendo. Aceitei e vivi.

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