nado em superfície, mergulho em profundidade


Esse texto passou por longa gestação.

Na verdade, já julgava ele pronto no primeiro esboço... mas nunca publicava, nem o completava além da minha imaginação.

Com isso as razões e desrazões mudaram algumas vezes.

Mas a base continua a mesma... essencialmente.



*****


Ele deveria nascer, primeiramente, após uma conversa com um amigo que questionou: Por que você escreve sobre essas coisas?


Explico: ele se indignou porque escrevi sobre maquiagem ou algo assim.


Meu amigo achava, nas palavras dele, vejam bem: desperdício de talento. (huahuahua) Queria que eu escrevesse sobre GRANDES COISAS.


Entre risadas perguntei: que grandes coisas seriam essas? [e pensei comigo mesma, sem elaboração nenhuma, quase livre associação: quem disse que quero talento para grandes coisas?]


Segundo ele, eu deveria escrever sobre psicologia. Aproveitar minha experiência de trabalho e formação para escrever coisas úteis.


Não sabia se surtava ou se gargalhava. Tudo que eu não queria quando inventei de brincar de blog era falar de coisas importantes. Pelo contrário, esse seria meio respiro no dia a dia, cheio de problemas, alguns concretos, outros imaginários. Alguns meus, muitos dos outros.


Ok, meu amigo pelo visto me desconhece. Ou pelo menos, não me lê direito.


Ele insistiu. "Você não tem medo de parecer fútil ou menos inteligente?"


Decidi: GARGALHEI... muito. Com vontade. Porque acho engraçado as maneiras como as pessoas em geral acham que constroem sua "cultura" e as maneiras de expor suas "inteligências". Sei de pessoas que não leem revistas, apenas livros ou jornais; de gente que acredita piamente que consumindo apenas "alta cultura" vai se tornar mais inteligente.


Bem, ele me sugeriu mais profundidade.


Argumentei: pratico mergulho em profundidade todo dia útil. De segunda a sexta, bato meu cartão, visto meu equipamento e mergulho. Vou fundo a maior parte do tempo. Também vou fundo, com frequência, fora do expediente. Mergulho em mares amigos, vizinhos. Mergulho no meu mar. Isso tem importância. Sim, muita. Descubro espécies novas dentro de mim, me espremo entre fendas, passo por abismos. No mar alheio aponto caminhos, indico cardumes, aviso dos corais.


Mas para mergulhar assim tão fundo também preciso treinar: como respirar na água, regular meu equipamento, adequar minha visão aos poucos, subir pra me reabastecer de oxigênio.


As vezes enxergo melhor na superfície. Corro o risco de não ver no mergulho de profundidade. As belas cores são necessárias. Os seres abismais podem assustar.


Não posso deixar de reconhecer, mesmo gostando do risco do profundo, que há prazer e importância em pegar jacaré, boiar na piscina enquanto se esquece do mundo, mergulhar rapidinho, sentar na beirinha, caminhar a beira mar... Só na beira do mar, sem submergir, é que posso ver meu horizonte. Apreciar o sol que nasce e se deita. E como eu gosto disso também. Um não elimina o outro. Ao contrário, até acho, como meu amigo, que pessoas que nunca mergulham não são muito interessantes. Mas tenho certeza também, que quem não volta a tona, não sobrevive.

Comentários

  1. Fazer um juízo de valor denota mente extremamente pequena. Ao não ver a diferença, ao não conhecer bem o outro ou respeitar o que o outro produz, dá-se a prova de uma ignorância viciante, dado que o valor que é pessoal nunca poderá ser aplicado em um outro contexto. (Foi mal Ana, não aguentei. Eu simplesmente abomino coisas como "você deveria isto, vc deveria aquilo").

    Ninha, ir ao fundo e voltar é a maior prova de profundidade de sua alma, já que vc tem coragem de ver as duas vertentes e tem a opção de escolher aonde quer estar no momento oportuno. Me orgulho de ser seu amigo.

    Beijos

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  2. Bom, apesar da crítica, acabo de provar que tenho a mente pequena ao também julgar outra pessoa. Mas perdi a paciência. rs. A essa hora meus 2 neurônios não me ajudam. Mas como tenho a mente pequena mesmo, não ligo.

    beijinhos de novo.

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  3. que lindo, ana.
    to gostando muito desses mergulhos e voltas.

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