curious about: NO PLACE LIKE HOME... SOBRE VIAGENS, SORVETES E VOLTAS QUE PRECISAM SER REALIZADAS PARA SE DESCOBRIR O QUE JÁ SE SABE

sorvete de tapioca, no leblon

Cheguei de viagem há 3 dias. Aproveitei as festas e providenciais conjunções astrais e retornei à cidade onde nasci. Voltei ao Rio após mais ou menos 4 anos. Por uma razão ou outra, nestes 4 anos acabava sempre arranjando outro destino nas minhas férias, no carnaval, nas festas...

...algumas cronologias me escapam...


ano novo em gaivotas


carnaval em balneário camboriú


viagens esquecidas... indistintas...


ilha do mel em algum momento


ano novo em floripa


carnaval em floripa


ano novo em gaivotas


carnaval em floripa


páscoa em floripa


um pouquinho de floripa pra aproveitar a licença prêmio


pulinho em blumenau


fossa em camboriú em plena licença prêmio


reveillon em floripa


planeta atlântida em floripa


carnaval em bombinhas e camboriú


páscoa em blumenau e gov. celso ramos


fuga do trabalho por 5 dias para ir pra buenos aires


show da madonna em são paulo



estava finalmente na hora de voltar ao rio...


rio como turista: bondinho do pão de açucar, roda rio 2016 ("CARACA MALUCO"!!), barraca do pepe na barra, copacabana palace, voo livre em são conrado, forte de copacabana, confeitaria colombo, praia da barra, sorvetes diferentes no leblon... "MANEIRO"!!


rio como carioca: andar de ônibus (210, 709, 335...), todo mundo usando havainas, ir à praia no mesmo trecho que a minha família vai há mais de 50 anos (!!), usar saia curta e shorts sem constrangimento, almoço de domingo na casa da vó, ouvir turista italiano e espanhol no coqueirão, caminhar no calçadão, bracarense, andar na ataulfo de paiva, ficar de bobeira no arpoador, bixxxcoito globo e matiii lião, a lagoa na saída do rebouças, bolinho de aipim, comprar o jornal e ir ler na praia, picolé de coco... VAMU QUE VAMU!!


lendo, em casa e não na praia (chovia naquele domingo...), a coluna do Artur Xexéo na revista do jornal o globo:



"Sorvetes


Existe em Puerto Madero - o porto revitalizado de Buenos Aires que virou a maior atração para os turistas que visitam a cidade - uma sorveteria Freddo. Isso não significa muita coisa. Afinal, existe praticamente uma Freddo em cada esquina de Buenos Aires. Foi ela quem inventou aqui o sorvete de doce de leite, o que a transoformou em mania dos moradores locais. Mas, por alguma razão que me escapa, a Freddo de Puerto Madero é a mais popular de todas.


No domingo passado, após o jantar na churrascaria El Mirasol, logo ali do lado, fui eu quem teve a idéia. Por que, em vez da sobremesa no restaurante, a gente não vai experimentar o sorvete da Freddo? O resto da mesa aprovou a sugestão. Eram duas da manhã. Imaginei um fim de noite perfeito, à biera do rio, com um sorvete famoso refrescando anoite quente do verão argentino. Fui ao caixa, fiz os pedidos, paguei e... recebi uma senha: 73. Cheguei no balcão a tempo de ouvir o atendente cantar o número do freguês que iria ser contemplado, naquele momento, com a graça de receber uma casquinha de chocolate com amêndoas: 31. Peralá, 31?!! Quer dizer que ainda havia 42 pedidos na frente do meu? Meia hora depois, percebi que os atendentes pareciam zumbis, cantando senhas e servindo sorvetes automaticamente. Com uma lentidão, fruto do cansaço, certamente, desesperadora. Não sei a que horas fui servido. Parei de olhar o relógio às 2h45m. Mas demorou tanto que eu recebi minha casquinha de chocolate amargo com a certeza de que aquele seria o melhor sorvete do mundo. Não era.


Minha decepção com o produto da Freddo me fez ver que tenho passado a vida em busca do melhor sorvete do mundo. Não foi com a mesma expectativa que esperei quase tanto tempo numa fila em Havana para experimentar o sorvete do Copélia? E o resultado não foi diferente: um sorvete sem graça. Lembro-me ainda, durante a Copa do Mundo da França, da horda de brasileiros que chegava da Ilha Saint-Louis, em Paris, dizendo que nenhuma experiência degustativa poderia ser considerada acabada antes de se conhecer o sorvete Berthillon. E lá fui para mais uma frustração. Era bom, mas será que é preciso ir tão longe para encontrar o sorvete ideal?


Será que ele não estava aqui mesmo, ali perto do Metro Copacabana, onde a sorveteria Zero nos mostrou pela primeira vez a cobertura de calda de chocolate quente? enfim a gente podia ter um Eskibon na casquinha! Ou na Sorveteria Lopes, ao lado do Caruso, onde fomos apresentados a sabores exóticos como os de fruta-do-conde, pitanga e jambo? Tudo na casquinha de biscoito, é claro.


A experência da Freddo cessou minha procura. Percebi que já conhecia o melhor sorvete do mundo. Ele era encontrado numa carrocinha de picolé que costumava estacionar na esquina da Miguel Lemos com Nossa Senhora de Copacabana, onde eu comprava o inesquecível Já-Já de coco. Nunca mais. O Já-Já tinha gosto de infância, e, monsieur Berthillon que me desculpe, não há sabor melhor no mundo".


por Artur Xexéo, para Revista do Jornal O Globo, 04 de janeiro de 2009. Página 50.



Posso não ter viajado tanto quanto o Xexéo (ainda!!!), nem sequer me decepcionei com o sorvete da Freddo de Buenos Aires, mas concordo que não há sabor melhor do que o provocado por reencontros... principalmente, reecontros com a nossa história, com a infância, com nossa identidade.


Pra mim isso acontece no Rio.


Ainda quero muitas viagens. Experimentar sabores e terras estrangeiras. Mas também quero voltar pra casa, sempre.


Cumprir os ciclos, que levam do Rio de Janeiro -que não se traduz em rio, mas sim em mar - a Mar del Plata - que não é mar, mas sim rio -, e de volta ao Rio... quantas vezes puder, para buscar, esquecer e lembrar aquilo que sei desde o início: onde mora meu "ideal"!

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