curious about: A VIAGEM SE APROXIMA...

Está, aos poucos, chegando o dia da minha viagem de aniversário para Bs As. O engraçado é que depois do período de empolgação enlouquecida, enquanto eu ainda estava fechando os detalhes e pagando, a viagem passou para segundo plano na minha vida. Depois de passar umas duas semanas fazendo todos os planos do mundo, entrando em blogs e comprando revistas de viagem... parei e voltei para meu ritmo de vida normal. Não que eu tenha desistido ou me arrependido, acho que a euforia vai voltar com força total alguns dias antes do embarque.
Estes dias, estava relendo alguns textos a procura de material de trabalho (textos e projetos de teatro em fase de construção... ehehe) e encontrei esse texto da Martha Medeiros (ok, sempre ela, eu sei!!!). É praticamente meu manual de viagens... se é que deve haver algum manual.
Viajar para dentro
escrito por Martha Medeiros em janeiro de 1998, disponível no livro Trem Bala.
Os brasileiros estão viajando mais. Não só para Miami, Cancún e Nova York, mas também para Nordeste, o Pantanal e Rio de Janeiro. Pouco importa o destino: a verdade é que os pacotes turísticos e as passagens mais baratas estão tirando as pessoas de casa. Muita gente lucra com isso, como os donos de hotéis, restaurantes, locadoras de automóveis e comércio em geral. Alguém perde? Talvez os psicanalístas. Poucas coisas são tão terapêuticas como sair do casulo. Enquanto os ônibus, trens e aviões continuarem lotados, os divãs correm o risco de ficar às moscas.
Viajar não é sinônimo de férias, somente. Não basta encher o carro com guarda-sol, cadeirinhas, isopores e travesseiros e rumar em direção a uma praia suja e superlotada. Isso não é viajar, é veranear. Viajar é outra coisa. Viajar é transportar-se sem muita bagagem para melhor receber o que as andanças têm a oferecer. Viajar é despir-se de si mesmo, dos hábitos cotidianos, das reações previsíves, da rotina imutável, e renascer virgem e curioso, aberto ao que lhe vai ser ensinado. Viajar é tornar-se um desconhecido e aproveitar as vantagens do anonimato. Viajar é olhar para dentro e desmascarar-se.
Pode acontecer em Paris ou em Trancoso, em Tóquio ou Rio Pardo. São férias, sim, mas não só do trabalho: são férias de você. Um museu, um mergulho, um rosto novo, um sabor diferente, uma caminhada solitária, tudo vira escola. Desacompanhado, ou com um amigo, uma namorada, aprende-se a valorizar a solidão. Em excursão, não. Turmas se protegem, não desfazem vínculos, e viajar requer liberdade para arriscar.
Viajando você come bacon no café da manhã, usa gravata para jantar, passeia na chuva, vai ao super de bicicleta, faz confidências a quem nunca viu antes. Viajando você dorme na grama, usa banheiro público, come carne de cobra, anda em lombo de burro, costura os próprios botões. Viajando você erra na pronúncia, usa colar de conchas, troca horários, dirige do lado direito do carro. Viajando você é reinventado.
É impactante ver a Torre Eiffel de pertinho, os prédios de Manhattan, o lago Como, o Pelourinho. Mas ver não é só o que interessa numa viagem. Sair de casa é a oportunidade de sermos estrangeiros e independentes, e essa é a chave para aniquilar tabus. A maioria de nossos medos são herdados. Viajando é que descobrimos nossa coragem e atrevimento, nosso instinto de sobrevivência e conhecimento. viajar minimiza preconceitos. Viajantes não têm endereço, partido político ou classe social. São aventureiros em tempo integral.
Viaja-se mais no Brasil, dizem as reportagens. Espero que sim. Mas que cada turista saiba espiar também as próprias reações diante do novo, do inesperado, de tudo o que não estava programado. O que a gente é, de verdade, nunca é revelado nas fotos.

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